O plano da Tetra Pak para criar a embalagem mais sustentável do mundo

Uma pesquisa mostra que os consumidores se preocupam com o impacto das embalagens, mas não querem pagar mais pela sustentabilidade. A saída é inovar
Uma pesquisa da Tetra Pak, fabricante de embalagens que popularizou os produtos longa vida, aponta que 90% dos brasileiros consideram muito importante que as embalagens de alimentos sejam recicláveis ou produzidas de material reciclado. O percentual é semelhante ao dos que se dizem conscientes das questões ambientais (87%). Apenas 5% estão desconectados dessa pauta.
Os dados representam um desafio para a indústria de alimentos e, em especial, para a de embalagens. Ainda mais quando se constata que um percentual muito baixo de consumidores está disposto a pagar mais para receber um invólucro ambientalmente correto. O consumidor se preocupa com a questão, prefere a embalagem sustentável, mas desde que não custe mais caro.
Esse cenário gera uma corrida para desenvolver a solução ideal que atenda às especificações de higiene e segurança da indústria de alimentos. “Temos um plano para desenvolver a embalagem mais sustentável do mundo”, afirma Valéria Michel, diretora de sustentabilidade da Tetra Pak Brasil. “Pode parecer arrogante, mas, quando se sabe os degraus que precisa subir, conseguimos enxergar o resultado.”
O que é uma embalagem sustentável
Uma embalagem sustentável, segundo Michel, é feita de material reciclado ou de fontes renováveis, e está inserida em uma cadeia que viabilize sua reciclagem. As embalagens longa vida da Tetra Pak, atualmente, são compostas de 75% papel, 20% polietileno (plástico) e 5% alumínio. O plástico, grande vilão ambiental, por incrível que pareça, não é o maior desafio. Já existem soluções feitas de fontes renováveis, como a cana-de-açúcar, que estão sendo gradativamente incluídas na cadeia da empresa.
O maior problema é o alumínio, curiosamente o material mais reciclado do país. As caixas longa vida possuem uma fina camada de alumínio em seu interior que impede a entrada de luz. É essa folha, mais fina que um fio de cabelo, que permite a conservação dos alimentos por um período estendido, sem adição de conservantes. Separá-la do restante da embalagem, no entanto, é difícil — quanto menor for o número de componentes em uma embalagem, maior é a possibilidade de reciclagem.
A Tetra Pak está desenvolvendo um material para substituir o alumínio. Essa “barreira alternativa” será feita, preferencialmente, de fibras, como um papelão. O processo para chegar ao componente passa, primeiro, por desenvolver uma base polimérica, ou seja, um plástico. Em seguida, evoluir para matérias-primas renováveis para, enfim, alcançar o objetivo. A empresa lançou, no ano passado, um primeiro piloto, no Japão.
O papel do consumidor na reciclagem
A entrada desse novo material no mercado não depende apenas do fabricante. “A demanda precisa crescer para a indústria produzir mais”, diz Michel. “Há empresas fabricando, por exemplo, plástico verde, porém, um aumento de produção não seria absorvido.”
O papel do consumidor, nesse caso, é fundamental. Apesar de que a maioria ainda não aceita pagar mais por uma embalagem sustentável, essa parcela vem diminuindo. A pesquisa da Tetra Pak mostra que, ao escolher um produto, o consumidor costuma olhar para o perfil ambiental da embalagem. Mas falta informação.
“É difícil engajar a população. Quase metade dos consumidores faz coleta seletiva em casa, porém, esse é o único indicador que não evoluiu de um ano para outro”, diz a diretora. Nessa equação, também entra a estruturação da cadeia de reciclagem. A Tetra Pak busca se aproximar dos catadores, que não costumam recolher embalagens longa vida.
O problema, diz Michel, é a baixa liquidez do material. Para resolver o problema, a empresa criou um projeto piloto que subsidia a compra das embalagens em R$ 0,50, metade para o catador, metade para o comprador. O programa teve a parceria da ONG Cataki. A taxa de reciclagem do longa vida no ano passado ainda será fechada, mas deve ficar entre 35% e 37%, o equivalente a 100 mil toneladas.
Fonte: Exame 10.03.2022

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