Com refeição em casa, dona da Adria fatura mais

M. Dias Branco vê forte demanda por massas e biscoitos.
As vendas da M. Dias Branco, maior fabricante de biscoitos e massas do Brasil, estão aquecidas neste segundo trimestre, após crescerem 22,4% em volume de janeiro a março, em comparação com igual período do ano passado. A companhia é dona de 19 marcas, como Vitarella, Fortaleza, Piraquê, Isabela e Adria.
“A demanda continua forte no segundo trimestre. No fim de março houve uma corrida aos supermercados em função da quarentena. Muita gente comprou para estocar produtos. Mas vimos abril ainda com uma demanda muito forte, principalmente em massas. As pessoas cozinham mais em casa e massas são práticas e oferecem um bom custo benefício”, afirmou ao Valor Gustavo Theodozio, vice-presidente de investimentos e controladoria da M. Dias Branco.
O executivo ponderou que as vendas cresceram em todas as marcas. O efeito da pandemia foi observado na segunda quinzena de março, mas o ritmo de expansão já estava em dois dígitos nos meses anteriores. “O desempenho do primeiro trimestre ratifica que nossa estratégia comercial é adequada”, afirmou Theodozio, lembrando que a empresa reduziu a participação do atacarejo nas vendas totais, enquanto ampliou as vendas para supermercados regionais, mercados de vizinhança e outros tipos de comércio. A receita da companhia subiu 24,3% no primeiro trimestre, para R$ 1,64 bilhão.
Do lado da despesa, Theodozio disse que a M. Dias Branco começou a colher os frutos da operação mais verticalizada. “Aumentamos o nível de verticalização com o início das operações do moinho de Bento Gonçalves [RS], para 96,7%. Isso ajudou na melhoria dos nossos custos”, afirmou. O patamar de verticalização no primeiro trimestre de 2019 era de 84,2%. O executivo também destacou o aumento do uso da capacidade instalada para 71%, ante 66,5% um ano antes.
A empresa prevê fechar um novo orçamento para o ano, levando em conta o cenário mais recessivo, até o fim do mês. “É óbvio que a perda de renda vai gerar retração de consumo mas, como temos marcas acessíveis, o que pode acontecer eventualmente, dependendo da queda na renda, é a piora no mix. É as pessoas preferirem produtos de menor valor agregado”, disse Theodozio.
No primeiro trimestre, a companhia registrou aumento no volume de vendas de 25,1% em biscoitos, 27,3% em massas, 19,3% em farinha e farelo e 17,3% em margarina e gordura. O preço médio por quilo subiu 1,5%, com alta de 1,1% em massas, 2,3% em farinha e farelo, 8,1% em margarina e gordura. Em biscoitos, principal categoria da M. Dias Branco, houve queda de 1,4% no preço médio. O segmento responde por mais da metade da receita e do lucro da companhia.
Theodozio disse que a queda no preço médio de biscoitos foi mais concentrada no fim de março, com consumidores buscando itens de preços menores. A empresa também relatou uma busca maior por produtos de preços mais baixos no Nordeste. A região, em conjunto com o Norte, respondeu por 62,9% das vendas no primeiro trimestre.
“Percebemos que a migração para produtos de preços mais baixos no Nordeste está sendo neutralizada pela expansão da M. Dias Branco no Sudeste e no Sul, que consome mais produtos de maior valor agregado”, afirmou o executivo.
No primeiro trimestre, a M. Dias Branco recuperou um ponto percentual em participação no mercado de biscoitos, na comparação com o quarto trimestre de 2019, e ficou com 33,2% das vendas totais. Em massas, a participação teve redução de 0,5 ponto percentual, para 32,4%. A companhia manteve a liderança de mercado nas duas categorias de produtos.
A companhia encerrou o primeiro trimestre com aumento de 140,8% no lucro líquido, que atingiu R$ 137 milhões. O desempenho da fabricante superou as estimativas do BTG Pactual. Na avaliação dos analistas do banco, a companhia é uma forte alternativa para o investidor durante a crise, considerando o crescimento da receita e do lucro. Eles ponderam, no entanto, que ainda temem uma redução no lucro antes da empresa poder oferecer um preço de ação mais favorável para os investidores.
A preocupação deve-se ao fato da companhia ter se beneficiado no primeiro trimestre de estoques de trigo adquiridos a preços baixos no fim do ano passado. No momento, os preços do trigo por tonelada estão 22% acima do valor de aquisição no quarto trimestre de 2019, o que deve pressionar custos no futuro.
Em função desse risco, o BTG manteve recomendação neutra para as ações da M. Dias Branco (equivalente à manutenção dos papéis), com preço-alvo de R$ 39,00. Ontem, as ações da companhia encerraram o pregão na B3 com alta de 2,30%, para R$ 33,32.
A M. Dias Branco pretende reforçar as suas vendas internacionais neste ano, começando pelos países vizinhos Argentina, Paraguai e Uruguai. No primeiro trimestre, a empresa registrou aumento de 103,2% nas exportações, para R$ 25,1 milhões.
“A internacionalização é algo que faz parte do nosso plano estratégico de longo prazo. Temos a meta de dobrar o negócio em três anos. E estamos nos esforçando para entregar essa métrica”, afirmou Theodozio.
Fonte: Valor Econômico 12.05.2020

Comments are closed.