Em entrevista exclusiva à Bloomberg Línea, Tiago Santos, CEO da Danone Brasil, detalha os avanços e os desafios da multinacional francesa para tornar seu portfólio infantil mais saudável, sem comprometer o desempenho financeiro, um equilíbrio fundamental para garantir a sustentabilidade do negócio.
A Danone estabeleceu a meta de reduzir o teor de açúcares em seus produtos infantis para 10% até 2030, dentro de um plano decenal alinhado às tendências globais de saúde e bem-estar. Contudo, segundo Santos, esse processo exige cautela e gradualidade: “Se a mudança no sabor for abrupta, a criança rejeita o produto e a mãe deixa de comprar, o que torna a estratégia insustentável”, explica o executivo.
O CEO reforça ainda que a substituição simples do açúcar por adoçantes artificiais não resolve o problema: “Seria uma falácia, pois o perfil de sabor permanece o mesmo e a criança continuará a consumir açúcar em outros produtos.”
Desde abril de 2024 à frente da Danone Brasil, Tiago Santos traz uma trajetória sólida na indústria global de alimentos, tendo liderado operações na Europa, Ásia Central e África. Para ele, a relação entre performance financeira e sustentabilidade é indissociável: “Performance sem sustentabilidade não tem futuro; sustentabilidade sem performance não tem impacto, porque não há quem pague a conta”, parafraseando o CEO global Antoine de Saint-Affrique.
No Brasil, o desafio é ainda maior diante do cenário econômico e social: cerca de 15% dos produtores de leite saíram do mercado entre 2023 e 2024, enquanto 68% da população está acima do peso, segundo dados do Atlas Mundial da Obesidade 2025.
A redução de açúcar integra o programa “Jornada de Impacto”, lançado em 2020, que orienta as metas de sustentabilidade da Danone para 2030, estruturadas em três pilares: natureza, pessoas & comunidades e saúde.
Um exemplo prático é o programa Flora, que promove a agricultura regenerativa entre produtores de leite, oferecendo assistência técnica e financeira para práticas sustentáveis que aumentam produtividade, qualidade do leite e reduzem emissões de metano e CO2. Hoje, mais da metade do leite utilizado pela Danone no Brasil provém de produtores participantes dessa iniciativa.
Além da saúde ambiental, a empresa avança em questões sociais, com mais de 50% dos cargos de liderança ocupados por mulheres — que, em média, recebem remuneração superior à dos homens no Brasil. Também estão no radar a redução das disparidades salariais por gênero e raça, e a requalificação dos colaboradores para enfrentar os desafios tecnológicos futuros, como a adoção da inteligência artificial.
“Estamos na metade do plano e já à frente do esperado em várias metas”, afirma Santos, reforçando que os compromissos são parte da cultura organizacional da Danone, não reativos a pressões externas ou mudanças políticas.
A empresa aposta na inteligência artificial para aumentar a eficiência, especialmente em planejamento da cadeia de suprimentos e previsão de demanda. “A IA é uma ferramenta de produtividade brutal”, destaca o CEO, que prevê democratizar seu uso entre todos os colaboradores.
Essa postura sustentável e inovadora foi reconhecida com a renovação da certificação B Corp no Brasil, selo concedido a organizações que demonstram compromisso rigoroso com impacto social e ambiental. Para Santos, o processo de transformação necessário para obter essa certificação é, na verdade, um investimento na resiliência do negócio a médio e longo prazo.
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