Robôs ajudam a comida a chegar à mesa

Demanda por máquinas com capacidade para colher, manipular e distribuir alimentos está em alta.
À medida que a covid-19 ameaça romper as redes de abastecimento de alimentos dos Estados Unidos, as empresas enfrentam o problema de como alimentar milhões de pessoas sob quarentena por meio de cadeias de distribuição com falta de pessoal. Como resultado, a demanda por empresas de robótica cujas máquinas possam colher, manipular e distribuir alimentos está em alta – e acelera muito uma tendência à automação que já estava em curso.
“Todo mundo fala sobre a onda da automação, a onda da inteligência artificial, e esta quarta revolução industrial, mas essas tendências apenas engatinhavam”, disse Scott Snyder, consultor e parceiro da Heidrick and Struggles. “Agora, de repente, um projeto empresarial que antes poderia ser marginal – instalar um robô que carregue e embale produtos na área operacional – ficou muito mais atraente.”
Abaixo estão exemplos de cinco máquinas que lideram a revolução robótica no setor de alimentos.
Em supermercados, como o Walmart e o Kroger, máquinas autônomas de lavagem de pisos percorrem os corredores para cima e para baixo todas as noites, e garantem que as instalações estejam reluzentes.
A Brain Corp, bancada pelo SoftBank, equipou milhares de robôs com seus sensores e software desde 2016, e agora eles cumprem, no conjunto, 8 mil horas de trabalho por dia, disse seu executivo-chefe, Eugene Izhikevich. No mês passado, a empresa levantou US$ 36 milhões em resposta a um novo pico na demanda, causado pela falta de mão de obra nos supermercados.
“Todos os dias nós devolvemos 8 mil horas a trabalhadores essenciais, para que façam outras coisas, por exemplo… limpezas de precisão, [desinfetar] maçanetas, repor estoques ou simplesmente fazer uma pausa de que precisem”, disse Izhikevich. “Então, os robôs não fazem toda a limpeza, eles fazem o trabalho mais monótono.”
A demanda por soluções automatizadas de gestão de plantio disparou nas fazendas. Na Califórnia, a FarmWise, apoiada por capital de risco, viu o apetite por seus produtos crescer em “uma ordem de grandeza” desde o início da pandemia do covid-19, disse seu executivo-chefe, Sébastien Boyer.
O “agribot” Titan do FarmWise é um robô agrícola gigante cor de laranja equipado com inteligência artificial que lhe permite identificar ervas daninhas para remoção, e assim ajudar os produtores a aumentarem sua eficiência e obterem mais retorno de suas terras.
No momento, a FarmWise, uma equipe de 50 pessoas, tem sete robôs em operação. Segundo Boyer, 20% de todo o trabalho no campo no sul da Califórnia é feito por trabalhadores temporários que vivem no México. Com a fronteira efetivamente fechada em meio à quarentena do coronavírus, os agricultores estão em busca de soluções alternativas para a mão de obra.
O Roxo, o “SameDay Bot” (robô do mesmo dia, em inglês) da FedEx, é um entregador de encomendas de etapa final (do centro de distribuição até o destino) que pode subir escadas e deixar pacotes em sua casa. Os protótipos atuais têm algumas falhas – como se deixarem confundir por sombras -, mas a expectativa é que até o fim deste ano o Roxo comece a fazer entregas a partir das agências FedEx Office.
Nos últimos meses, a FedEx expandiu a lista de parceiros que buscam usar seu serviço, que agora inclui McDonald’s, Walmart, CVS, AutoZone e Target. Somados, seus clientes têm cerca de 80 mil pontos de venda nos EUA, o que dá à FedEx o potencial de fazer enormes economias de escala para tornar as entregas robotizadas predominantes nos próximos 18 a 36 meses.
“Podemos levar a economia a um ponto em que fará sentido ter uma frota de robôs alinhados do lado de fora da loja ou do restaurante, prontos para atender à demanda”, disse Brian Philips, executivo-chefe do FedEx Office.
A Fetch Robotics, com sede em San Jose, constrói robôs de armazém, que transportam mercadorias dentro das instalações. Os robôs, que já são operacionais em 22 países para mais de cem clientes, vêm em três tamanhos, que podem movimentar cargas que vão de 100 quilos a 1.500 quilos.
Sua executiva-chefe, Melonee Wise, disse que nos últimos dois meses a Fetch transferiu seu foco para os fornecedores essenciais, e ajuda empresas a aderirem às diretrizes de distanciamento social. Ela acrescentou que houve um aumento na demanda por robôs de desinfecção e por isso a empresa passou a equipar suas máquinas com ferramentas como luz ultravioleta, para matar germes.
“O que nos torna únicos é que nossos robôs são utilizados em um sistema de nuvem”, disse ela. “Assim, podemos monitorar todos eles em tempo real, globalmente, o que facilita muito o suporte e a implantação… Se você quiser comprar um robô hoje, poderá tê-lo configurado e operante em menos de oito horas.”
A Fabric constrói centros de microdistribuição altamente automatizados cujo objetivo é dar a mercearias e pequenas lojas de mantimentos condições de competir com os recursos de entrega no mesmo dia da Amazon. As operações em seu principal centro, em Israel, aumentaram 200% entre março e abril, e agora a Fabric está em processo de construir seu primeiro centro americano, no Brooklyn, em Nova York.
Antes da pandemia, as mercearias on-line representavam menos de 5% do setor de mercearias dos EUA, um mercado de US$ 682 bilhões, segundo o IbisWorld. A expectativa agora é de que essa fatia ultrapasse os 10% este ano. “O que as mercearias viram nas últimas quatro semanas é o que esperavam ver nos próximos quatro anos”, disse Elram Goren, executivo-chefe da Fabric.
As mercearias têm sido reticentes em se adaptar ao comércio eletrônico porque a perspectiva as coloca em uma situação sem saída: ofereça pedidos on-line e perca dinheiro em cada venda, ou se recuse a oferecer o serviço e veja uma parte da sua freguesia migrar para os concorrentes on-line.
Mas Goren argumenta que, ao levar o estoque para bem mais perto dos clientes e usar robôs para carregar e embalar itens, ele pode mudar essa equação e provocar uma transformação duradoura na maneira como os consumidores compram mantimentos, mesmo depois que a pandemia termine.
“Acredito que grande parte disso vai se manter”, disse ele. “A covid-19 mudará esse setor – ou pelo menos vai acelerar o processo nos próximos anos.”
Fonte: Valor Econômico 18.06.2020

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