Sapore começa a vender prato pronto em supermercado

Grupo entrega 150 mil refeições por aplicativo até maio e negocia aquisição no segmento
A pandemia reduziu em cerca de 15% a receita do ano passado da Sapore, uma das três maiores operadoras de restaurantes corporativos do país, com parte das empresas em sistema de “home office” e níveis de desemprego em alta. Por outro lado, impulsionou dois novos negócios da companhia: o delivery de comida, em parceria com aplicativos de entrega, e o lançamento da Sapore in Box, marca de pratos prontos que começou a ser vendida em lojas do Carrefour em abril.
O projeto começou em julho do ano passado, com o “caseirinho”, prato pronto vendido por R$ 9,99 pelo Uber Eats. Em março deste ano, foi firmada parceria com o iFood. A Sapore alugou espaços em áreas de alta demanda dos aplicativos, para servirem como ‘hubs’ de distribuição dos pedidos. No início eram dois “hubs”. Hoje são oito na Grande São Paulo e três no Distrito Federal.
Concorrentes como a francesa Sodexo, líder no mercado de refeições coletivas no Brasil, também estão apostando em novas fontes de receita para driblar a redução de 5% no faturamento do setor em 2020, que segundo a Associação Brasileira das Empresas de Refeições Coletivas (Aberc) somou R$ 19,5 bilhões. A Sodexo lançou, no ano passado, refeições para o consumidor vendidas pelos aplicativos iFood e Rappi e até abril havia entregue 14 mil pratos.
Com a possível aquisição, a Sapore pode crescer mais rapidamente no segmento. Não é a primeira tentativa do grupo de ganhar escala no varejo com uma compra. Em 2018, a companhia fez uma proposta de fusão aos acionistas da IMC, dona da rede de restaurantes Frango Assado, mas não conseguiu fechar o negócio.
O projeto com a marca Sapore in Box inclui a abertura de lojas ou quiosques. Atualmente, são dez tipos de pratos, de feijoada a opções veganas a partir de R$ 11,99. Uma loja piloto foi instalada no supermercado Mais Brasil no bairro de Santa Cecília, em São Paulo. Os produtos são vendidos também nas gôndolas de oito lojas do Carrefour na Grande São Paulo. O prato pronto pode ser esquentado na hora e consumido na cafeteria do hipermercado ou levado para casa em versões resfriadas ou congeladas. As refeições embaladas também são vendidas em algumas das empresas onde a Sapore tem restaurantes corporativos, como uma oferta adicional aos funcionários.
O empresário calcula que os projetos voltados ao consumidor final gerem um faturamento anual de R$ 100 milhões à Sapore em um primeiro estágio. A estimativa sobe para R$ 600 milhões, se a aquisição da empresa com “dark kitchens” for concretizada.
É pouco perto da receita líquida total da Sapore, de R$ 1,6 bilhão no ano passado, mas representa um passo importante na diversificação das atividades e estratégia de criação do que Mendez chama de um ecossistema de serviços que começou com a compra de startups, em 2017, por sua holding Abanzai. Até 2020 foram aplicados R$ 40 milhões em aquisições, como da Lucco Fit, de comida saudável congelada, e da Zaitt, de minimercados sem caixas. Algumas foram vendidas nesse período, como a Shipp, empresa de delivery do Espírito Santo negociada com a Lojas Americanas em abril.
“A angústia hoje é fazer diferente e fazer rápido. Essa é uma angústia de todas as empresas, não só nossa”, diz Mendez. “Temos um mundo que exige um novo modelo mental.” Segundo o empresário, isso significa ter uma visão mais aberta para parcerias. “Quando a gente fala de ecossistema, a gente não detém o conhecimento sozinho, tem uma série de parceiros, com aquisições, com alianças, com parcerias.”
Em Brasília, por exemplo, o preparo das refeições para entrega está sendo feita em conjunto com um bufê que teve a demanda reduzida por causa da pandemia. Em São Paulo, parte da produção é feita na cozinha de três empresas clientes, em um acordo que prevê o uso da capacidade instalada do local, que ficou ociosa, já que os funcionários de áreas administrativas estão trabalhando de casa, e o número de refeições servidas na própria companhia diminuiu. Outra parte é feita numa cozinha industrial montada no ano passado no Rio de Janeiro.
“Os modelos são vários”, diz Mendez. “Se fôssemos pensar pelo modelo antigo, teríamos uma cozinha central em cada lugar, uma em São Paulo, uma em Brasília, mas agora vemos oportunidade de crescer com formas diferentes de parcerias”. Ao mesmo tempo, a ideia é aproveitar a logística de compras de alimentos já estruturada da Sapore, que opera mais de 1 mil restaurantes corporativos no país, para os novos negócios. “A habilidade que a Sapore nos dá é volume, tamanho, preço, condições de logística já implementadas.”
A expectativa do grupo para este ano é voltar aos patamares de resultados de 2019, quando o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (ebitda) ficou em cerca de R$ 130 milhões e o lucro líquido foi de R$ 41 milhões. Em 2020, o Ebitda caiu 50% e a empresa fechou com prejuízo de R$ 12 milhões, pelo reconhecimento de perdas com provisões relacionadas a um processo judicial que discute a incidência tributária sobre um terço de férias. “O resultado seria zero, se não houvesse esse impacto, que não mexe no caixa e é uma provisão”, diz Elezir da Silva Jr., CEO da Sapore.
No primeiro trimestre deste ano, diz o executivo, o faturamento foi de R$ 486 milhões, maior que os R$ 473 milhões de 2020 e mais próximo dos R$ 500 milhões de 2019, quando não havia covid-19. A queda de receita no fornecimento de refeições a alguns clientes está sendo compensada por outros que estão se expandindo, como empresas de comércio eletrônico ou companhias ligadas ao agronegócio. “Meu ebitda no primeiro trimestre já foi 20% maior que o de 2019, em função de redução de custos, melhoria de produtividade e ajuste nos processos”, afirma Elezir.
Fonte: Valor Econômico 22.06.2021

Comments are closed.