Vigor muda comando e conversa com rivais

Controlada pelo grupo mexicano Lala desde 2017, operação brasileira é vista como deficitária
A Vigor, controlada pelo grupo mexicano Lala, está mexendo em posições de liderança de sua estrutura. Uma nota distribuída internamente na companhia, à qual o Valor teve acesso, informa sobre uma dança das cadeiras nas áreas de marketing, comercial e planejamento estratégico.
As mudanças ocorrem após a troca recente de comando e de conversas dos controladores mexicanos com bancos de investimentos para uma possível venda da companhia, cinco anos após a entrada da Lala no negócio.
Fontes ouvidas pelo Valor afirmaram que as operações da Vigor no Brasil estão deficitárias e que a companhia conversou há dois meses com o Bradesco BBI sobre uma saída do negócio, de acordo com uma pessoa a par do assunto. “Os controladores não conseguiram se adaptar ao mercado brasileiro”, disse essa fonte.
Executivos do segmento que preferem não ser identificados afirmam que o grupo Lala quer vender a empresa brasileira desde 2021, pelo menos. Segundo uma pessoa ligada à indústria do setor, a empresa estaria sendo “ofertada” por um banco a potenciais compradores por um quarto do valor pelo qual foi comprada em 2017. O grupo adquiriu o controle da Vigor da holding J&F, da família Batista, por R$ 4,3 bilhões.
Embora ainda não haja um mandato oficial de venda, potenciais interessados já foram sondados. Os controladores têm dito que não querem sair do Brasil, mas o grupo mexicano chegou a bater na porta de líderes do segmento, como a francesa Lactalis. A J&F estaria entre os potenciais interessados no negócio, o que seria uma recompra: a família vendeu Vigor, Eldorado e Alpargatas em 2017, quando o conglomerado passou por forte turbulência. O marco da crise foi o dia 17 de maio daquele ano, quando gravações do presidente Michel Temer feitas pelo empresário Joesley Batista vieram à tona, no episódio que ficou conhecido no mercado como “Joesley Day”.
Conforme noticiou o Valor no fim de janeiro, o brasileiro Luis Gennari deixou a presidência da Vigor, que comandava desde 2020. O motivo da saída ainda é desconhecido. No comunicado distribuído internamente sobre a troca de lideranças nas áreas citadas, o executivo Cesar de los Santos – que, segundo uma fonte, integra o grupo controlador mexicano – é citado nominalmente como o presidente da empresa.
Resultados insatisfatórios
Para empresários e altos executivos do segmento, a razão para o grupo querer livrar-se do negócio é o retorno insatisfatório. “A Vigor não é uma empresa que faça muito sentido economicamente”, diz um dos maiores produtores de leite do país, que também é industrial.
No último balanço da Vigor disponível, de 2021, a empresa teve receita de R$ 2,6 bilhões, montante 5,3% menor que o de 2020. A companhia teve Ebtida negativo de R$ 1,2 bilhão (no ano anterior, ela havia tido lucro de R$ 46,1 milhões), resultado atribuído à reavaliação de valor de ativos (“impairment)”. De um ano a outro, a receita líquida do Lala cresceu 7,4%, para US$ 4 bilhões, e o resultado líquido subiu 18,5%, para US$ 69,6 milhões, de acordo com o Valor Data.
Fonte: Valor 02.03.2023


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