Os moduladores de sabor na experiência alimentar: elevando a percepção sensorial

Projetados para influenciar, intensificar ou reduzir aspectos de sabor, oferecem uma gama de possibilidades para aprimorar, ajustar e personalizar o perfil sensorial.
Por Márcia Fani
A experiência sensorial é reconhecida como o principal elo entre consumidores e alimentos e bebidas, e o sabor permanece o critério mais determinante de escolha. O Food & Health Survey 2024, do International Food Information Council, reforça esse cenário: pelo 19º ano consecutivo, “sabor” lidera a lista de fatores de decisão para 85% dos consumidores globais, à frente de preço e saúde. Ou seja, sem um perfil sensorial convincente, qualquer inovação corre o risco de passar despercebida.
No Brasil, não é diferente. Dados da Euromonitor mostram que os consumidores valorizam produtos mais saudáveis, mas não hesitam em descartar rapidamente aqueles que não entregam a experiência de sabor esperada.
Ao mesmo tempo, a indústria precisa ir além da saudabilidade, sem deixar de incorporá-la, na criação de experiências únicas, lidando com a complexidade de matrizes inovadoras, atendendo tendências como plant-based e indulgência saudável, e otimizando formulações para estabilidade, shelf-life e textura.
É nesse contexto que os moduladores de sabor assumem papel estratégico. Mais do que ajustar sabor ou aroma, permitem ampliar o repertório sensorial, reduzindo o amargor de compostos naturais ou proteínas vegetais, reforçando a percepção de doçura ou salinidade, aumentando a sensação de corpo e complexidade e realçando aromas que intensificam o prazer de consumo, viabilizando, dessa forma, reformulações com menos açúcar e sódio, ao mesmo tempo em que abrem espaço para inovações sensoriais em produtos funcionais, indulgentes ou premium.
Em um mercado cada vez mais diversificado, os moduladores de sabor não apenas viabilizam reformulações, mas são estratégicos para a criar experiências diferenciadas, considerando sabor, aroma, textura e experiência de consumo, exatamente o que o consumidor espera encontrar nas prateleiras.
Panorama estratégico
O mercado global de moduladores de sabor vive um ciclo de expansão acelerada, sustentado pela demanda por alimentos e bebidas mais saudáveis, mas que preservam a experiência sensorial. As projeções convergem para o mesmo ponto: trata-se de um segmento em ascensão, com perspectivas de quase dobrar de tamanho em menos de uma década.
Segundo a Mordor Intelligence, o setor deve movimentar US$ 1,67 bilhão em 2025 e alcançar US$ 2,43 bilhões até 2030, com uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 7,76%. A Future Market Insights projeta números ainda mais robustos: US$ 1,81 bilhão em 2025 e mais de US$ 3,40 bilhões até 2035, crescendo em média 6,5% ao ano. Já a Markets and Markets prevê um salto de US$ 1,4 bilhão em 2023 para US$ 2,0 bilhões em 2028, enquanto a Grand View Research estima US$ 2,36 bilhões até 2030, ambos com ritmo próximo a 7% anuais.
Apesar das diferenças metodológicas, a leitura é unânime: os moduladores de sabor estão em rota de crescimento consistente e já são considerados ingredientes de relevância estratégica para a indústria.
Os recortes por tipo e aplicação reforçam essa visão. Os moduladores de doçura, puxados pela busca por alternativas ao açúcar, respondem por 47,18% do mercado, enquanto as soluções de origem natural já representam 56,67% e devem ganhar cada vez mais espaço (Mordor Intelligence).
Em termos de uso, as bebidas concentram cerca de 44% da aplicação global, impulsionadas pela reformulação de refrigerantes e sucos sem açúcar e pelo avanço de categorias funcionais e energéticas (Globe News Wire). Já no formato, os moduladores líquidos lideram com 57,5%, consolidando-se como padrão preferencial pela praticidade industrial e pelo desempenho sensorial superior (Meticulous Research).
Na América do Sul, os números também apontam para crescimento, ainda que em ritmo mais moderado. O mercado de sabores e intensificadores de alimentos, onde os moduladores estão inseridos, deve registrar CAGR de 6,8% entre 2020 e 2025 (Mordor Intelligence). Embora não seja um dado exclusivo de moduladores de sabor, o movimento reflete o avanço da categoria de ingredientes sensoriais, especialmente pela busca de soluções naturais e pela reformulação de produtos tradicionais.
No Brasil, a curva é mais contida, com CAGR estimado em 3,05% para o mesmo período (Mordor Intelligence). Mesmo assim, há sinais de dinamismo; em 2024, foram registradas mais de 15 novas parcerias focadas em pesquisa e desenvolvimento de soluções sensoriais e de rótulo limpo, especialmente em bebidas e laticínios, um indicativo de que a inovação local começa a ganhar tração.
Simultaneamente, discussões sobre clean label e reformulação de produtos têm se intensificado em fóruns de P&D no país, um movimento que abre espaço para que os moduladores de sabor, sobretudo os de origem natural, passem a integrar de forma estratégica o portfólio da indústria. Ainda que a adoção seja gradual, o cenário é promissor, revelando um mercado que amadurece em paralelo a uma demanda crescente por conveniência, saúde e, acima de tudo, sabor.
Equilibrando percepção e formulação
Os moduladores de sabor têm função central na definição do perfil sensorial de alimentos e bebidas. Ao interagirem de forma seletiva com receptores gustativos, permitem ajustar a intensidade de sabores específicos, atenuar notas indesejadas e reforçar atributos positivos, garantindo que formulações com redução de açúcar, sódio ou gordura mantenham equilíbrio e consistência.
O impacto dessa modulação é particularmente perceptível e relevante em matrizes complexas. Produtos à base de proteínas vegetais apresentam compostos amargos ou adstringentes que podem comprometer a aceitação do consumidor, enquanto em laticínios, snacks e bebidas, a redução de ingredientes críticos exige que a experiência sensorial permaneça intacta. Em ambos, os moduladores de sabor possibilitam intervenções precisas, preservando a percepção de dulçor, salinidade, umami e complexidade, sem comprometer aroma, corpo ou textura.
O aprofundamento do conhecimento sobre os mecanismos moleculares envolvidos no paladar, como os receptores T1R2/T1R3, associados à percepção de doçura, e TAS2Rs, ligados ao amargor, ampliou o potencial de aplicação dos moduladores, permitindo o desenvolvimento de soluções mais direcionadas e eficazes, capazes de atuar de forma precisa em diferentes perfis de produtos.
Em paralelo, estratégias como bitter-blocking, realce de notas umami e estímulo de kokumi, não apenas corrigem sabores indesejados, mas aumentam complexidade, corpo e sensação de plenitude, ampliando o repertório sensorial disponível nas formulações.
A compreensão da percepção gustativa estabelece uma base sólida para o desenvolvimento de produtos mais equilibrados e consistentes. Ao permitirem intervenções precisas sobre dulçor, salinidade, amargor e complexidade sensorial, os moduladores de sabor sustentam a performance de formulações e ampliam o potencial de inovação em diferentes categorias, conectando ciência sensorial e estratégia de desenvolvimento de produto.
Transformando sabor em experiências completas
Aprimorar a percepção de sabor e equilibrar atributos sensoriais se tornou essencial em um mercado onde o consumidor está cada vez mais atento à qualidade das suas experiências de consumo.
A IMCD Brasil responde a essa demanda com a plataforma Modulasense®, que inclui moduladores de sabor constituídos por compostos aromáticos especializados no aprimoramento e equilíbrio da experiência sensorial em diferentes categorias de alimentos e bebidas.

Thamires Cunha, Analista de Aplicações da IMCD Brasil.

















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