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Food InnovationDestaques Matérias EspeciaisAromas microencapsulados: Produtos sensorialmente mais atraentes e tecnicamente mais estáveis

Aromas microencapsulados: Produtos sensorialmente mais atraentes e tecnicamente mais estáveis

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Projetados para liberar compostos voláteis de forma gradual ou em resposta a estímulos específicos, os aromas microencapsulados garantem estabilidade, intensidade e liberação controlada no momento exato do consumo.

Por Márcia Fani

O aroma é um dos principais atributos sensoriais que influenciam a aceitação de um alimento ou bebida. No entanto, muitos compostos voláteis são sensíveis a fatores como calor, umidade, oxidação e luz. Para preservar esses compostos e melhorar a sua liberação nos produtos, a indústria de alimentos e bebidas tem adotado a tecnologia de microencapsulação, processo que protege os aromas, aumenta a sua estabilidade e permite um controle preciso sobre a sua liberação, resultando em uma experiência sensorial aprimorada.

A sua capacidade de proporcionar vantagens técnicas e sensoriais tem se tornado um diferencial importante na formulação de produtos, impulsionando um mercado em franca expansão. De acordo com a Market Research Intellect, o mercado global de microencapsulação foi avaliado em US$ 10,12 bilhões em 2023, com projeção de atingir US$ 26,15 bilhões até 2031, o que representa uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 12,6% de 2024 a 2031.

Mais especificamente com relação ao mercado de encapsulação na área de alimentos, a Mordor Intelligence aponta crescimento a uma CAGR de 6,12% até 2027. Os dados também indicam que o mercado de ingredientes alimentícios microencapsulados, incluindo aromas, deverá registrar uma CAGR de 4,80% durante o período de 2024 a 2029.

Embora não existam dados específicos sobre o mercado de microencapsulação de aromas na América Latina, essa tecnologia tem ganhado destaque, refletindo tendências globais e atendendo às demandas específicas da região.

No Brasil, é possível observar aumento significativo na adoção de tecnologias de microencapsulação, impulsionado pela crescente demanda por alimentos funcionais e suplementos nutricionais. A região tem se beneficiado de investimentos em pesquisa e desenvolvimento, além de parcerias estratégicas com empresas globais especializadas, visando aprimorar a qualidade e a segurança alimentar.

Projeções da Mordor Intelligence indicam que o mercado de microencapsulação na indústria de alimentos continuará a expandir, impulsionada pela demanda por alimentos com valor agregado.

A microencapsulação aplicada aos aromas

Considerada uma das inovações mais significativas nos últimos 40 anos, com aplicações que permeiam desde a indústria farmacêutica até a alimentação e cosméticos, a microencapsulação surgiu no final da década de 1960 e início dos anos 1970, como uma forma de suprir a necessidade de controlar a liberação de substâncias voláteis e sensíveis, como os princípios ativos de medicamentos ou fragrâncias, protegendo-os de fatores ambientais que poderiam comprometer a sua eficácia e estabilidade.

Na indústria alimentícia, o uso da microencapsulação de ingredientes começou a se popularizar nos anos 1980, à medida que a necessidade de preservar compostos sensoriais se intensificava, especialmente em produtos com prazos de validade longos e expostos a processos industriais rigorosos.

Nesse contexto, a microencapsulação de aromas surgiu como uma solução para um problema recorrente: a volatilidade dos compostos aromáticos, que muitas vezes são perdidos durante o processo de produção ou exposição ao ambiente.

Atualmente, variadas técnicas de microencapsulação são utilizadas para preservar as propriedades dos aromas, sendo as mais tradicionais a secagem por pulverização (spray-drying), emulsificação e coacervação.

A secagem por pulverização, ou spray-drying, é uma das técnicas mais tradicionais na microencapsulação de aromas na indústria de alimentos e bebidas, combinando eficiência, escalabilidade e custo competitivo. O processo envolve a atomização de uma emulsão contendo o aroma e um agente encapsulante, seguida pela rápida secagem em uma câmara de ar quente, resultando em micropartículas que protegem os compostos voláteis da degradação e da oxidação. Esse encapsulamento garante maior estabilidade dos aromas durante o armazenamento e possibilita a sua liberação gradual no momento do consumo, preservando o impacto sensorial dos produtos.

A escolha do agente encapsulante depende das características do aroma, das condições do processo e das propriedades desejadas no produto final. Os mais utilizados são polissacarídeos, como a goma arábica, maltodextrina e amidos modificados, que oferecem boa solubilidade em água e estabilidade durante o processamento. As proteínas, como caseína, gelatina e proteínas do soro de leite, também são amplamente empregadas devido a sua capacidade de formar matrizes protetoras eficientes. Além disso, lipídios, como ceras e triglicerídeos, podem ser usados em algumas formulações para proporcionar maior resistência à umidade e estabilidade prolongada dos aromas encapsulados.

A secagem por pulverização é especialmente útil em categorias de alimentos que necessitam de estabilidade prolongada de aromas, como produtos de panificação, evitando perdas aromáticas durante o processamento térmico; bebidas instantâneas, como cafés, chás e achocolatados,  protegendo os aromas da umidade e da volatilização e garantindo um perfil sensorial mais consistente após a reconstituição; laticínios e formulações plant-based, ajudando a mascarar off-notes e melhorar a experiência sensorial de bebidas proteicas e sobremesas; temperos e condimentos em pó, assegurando a liberação controlada dos compostos aromáticos em preparações culinárias.

A emulsificação é uma abordagem eficiente, que garante maior estabilidade e liberação controlada dos compostos voláteis em diversas matrizes alimentícias. O método consiste na dispersão do aroma em uma fase contínua, utilizando emulsificantes que formam pequenas gotas estabilizadas, as quais podem posteriormente ser encapsuladas por processos como secagem por pulverização ou gelificação.

Diversos emulsificantes podem ser utilizados para estabilizar a emulsão e garantir a formação adequada das microcápsulas. Entre as proteínas, destacam-se a proteína do soro de leite (WPI), que oferece boa estabilização e interação com polímeros; a caseína e caseinatos, que formam emulsões estáveis e resistem a processos térmicos; e proteínas vegetais, como a de ervilha, amplamente utilizadas em formulações plant-based.

Os polissacarídeos também desempenham papel importante nessa técnica, com destaque para a goma arábica, um dos emulsificantes mais comuns, devido a sua excelente solubilidade e capacidade de estabilização, e a goma acácia modificada, que melhora a retenção de compostos voláteis. As maltodextrinas são frequentemente combinadas com goma arábica para otimizar a eficiência da encapsulação, enquanto as gomas alfarroba e guar contribuem para o aumento da viscosidade e estabilização das emulsões.

Outros emulsificantes utilizados incluem ésteres de sacarose e mono e diglicerídeos, que ajudam na formação da emulsão e na estabilização da interface entre as fases oleosa e aquosa. A lecitina, seja de soja, girassol ou canola, também é amplamente empregada por promover uma emulsificação eficiente e atender a formulações clean label.

A escolha do emulsificante adequado depende de fatores como compatibilidade com o sistema de encapsulação, solubilidade no meio aquoso e a necessidade de liberação controlada do aroma ao longo do tempo.

A principal vantagem da técnica de emulsificação está na proteção dos aromas contra degradação oxidativa e volatilização, permitindo que o perfil sensorial do produto final seja mais consistente ao longo do shelf life; também possibilita a liberação gradual dos compostos aromáticos no momento ideal do consumo, potencializando a experiência sensorial.

Essa técnica é especialmente relevante em categorias onde a solubilidade e a dispersão uniforme dos compostos são essenciais. Em bebidas, como sucos, refrigerantes e bebidas funcionais, garante que os aromas permaneçam bem distribuídos e estáveis, evitando separação ou perdas durante o armazenamento. No setor de laticínios e produtos plant-based, auxilia na incorporação homogênea dos aromas em matrizes proteicas, contribuindo para um perfil sensorial mais equilibrado. Em confeitaria e panificação, favorece a retenção de notas aromáticas em formulações líquidas, como recheios e coberturas, melhorando a liberação durante o consumo.

A coacervação é uma técnica em que uma solução contendo os compostos aromáticos é misturada com uma substância coacervante, que forma uma cápsula ao redor do aroma. O método se baseia na formação de uma fase rica em polímero ao redor do material ativo, criando uma cápsula protetora que reduz a volatilização e a degradação dos compostos aromáticos. Além de preservar o perfil sensorial dos ingredientes, possibilita a liberação direcionada dos aromas, o que é especialmente valioso em aplicações que exigem impacto sensorial prolongado ou ativação em momentos específicos do consumo.

Entre as principais substâncias coacervantes empregadas estão a gelatina e a goma arábica, que compõem um dos sistemas clássicos de coacervação complexa, devido a sua compatibilidade com ingredientes alimentícios e a capacidade de formar cápsulas estáveis. Proteínas e polissacarídeos, como caseína, albumina e alginatos, também são amplamente utilizados por sua resistência e retenção eficiente dos compostos voláteis, bem como carragenanas e quitosana por suas propriedades estruturantes e interação com outras macromoléculas para formar cápsulas com diferentes características de liberação. Já as pectina e proteínas do soro de leite são alternativas que permitem a criação de microcápsulas biodegradáveis, enquanto as gomas gelana e xantana são aplicadas para formar redes estruturadas e estáveis ao longo do shelf life do produto.

Essa técnica é amplamente utilizada em categorias de alimentos e bebidas onde a retenção do aroma ao longo do shelf life e a liberação controlada são essenciais. Em produtos de panificação, por exemplo, ajuda a manter notas aromáticas durante o armazenamento e a ativá-las no momento do consumo, garantindo um frescor sensorial mais duradouro. No setor de lácteos e análogos, contribui para a estabilidade de aromas em formulações como bebidas proteicas e sobremesas fermentadas, onde o perfil sensorial pode ser impactado por interações com proteínas e gorduras. Em bebidas instantâneas e em pó, protege os compostos aromáticos da oxidação e permite que sejam liberados apenas quando a bebida é preparada. Já em snacks e confeitos, viabiliza experiências sensoriais diferenciadas, com liberação sequencial de aromas ao longo do consumo.

Além das técnicas tradicionais, novas abordagens vêm sendo desenvolvidas para aprimorar a microencapsulação de aromas, com foco em melhorar a estabilidade, liberação e personalização sensorial.

Uma delas é a encapsulação em lipossomos, que, embora não seja uma técnica nova, tem sido cada vez mais valorizada e aprimorada nas últimas décadas, ganhado destaque na indústria de alimentos e bebidas devido a sua capacidade de melhorar a estabilidade e a liberação controlada de ingredientes sensíveis, como os aromas.

Os lipossomos são estruturas esféricas compostas por uma bicamada lipídica, que podem ser utilizadas para proteger compostos voláteis de condições adversas, como luz, oxigênio e variações de temperatura. Ao encapsular aromas dentro desses microcápsulas, é possível prolongar sua vida útil, melhorar a consistência do sabor e garantir uma liberação mais eficiente durante o consumo, o que contribui para uma experiência sensorial mais robusta e estável.

No contexto de alimentos e bebidas, a aplicação de lipossomos na microencapsulação de aromas é particularmente eficaz em categorias que demandam sabores duradouros e menos suscetíveis à volatilização. Em produtos lácteos, como iogurtes, sobremesas cremosas e queijos, permite que o aroma seja liberado gradualmente, proporcionando uma experiência gustativa contínua e controlada. Em confeitos, como balas e gomas, garante que o sabor seja mantido durante o armazenamento e consumo, sem se dissipar rapidamente. Nas bebidas não alcoólicas, especialmente em refrigerantes e sucos, oferece a possibilidade de preservar sabores delicados que poderiam ser degradados com o tempo ou sob condições extremas de processamento.

A microencapsulação em lipossomos também é uma solução interessante para produtos funcionais, como bebidas energéticas e suplementos alimentares, que desejam incorporar aromas de maneira eficiente, sem comprometer a estabilidade de outros ingredientes bioativos.

Outra abordagem que tem se destacado como uma solução que oferece maior estabilidade e controle na liberação de compostos voláteis em diversas matrizes alimentícias, é a emulsificação de dupla fase, técnica que consiste na formação de uma emulsão múltipla, geralmente do tipo água/óleo/água, na qual o aroma é protegido por uma camada lipídica intermediária, reduzindo sua degradação por oxidação, volatilização ou interações com outros componentes da formulação. O resultado é um sistema encapsulado mais eficiente, que mantém a integridade sensorial do produto final ao longo do shelf life.

Os principais encapsulantes utilizados são gomas naturais (arábica, xantana e guar), polímeros e copolímeros (gelatina, pectina, maltodextrina, hidroxipropilmetilcelulose e ácido algínico), amidos (de milho e de batata), proteínas de origem animal ou vegetal (caseína, albumina ou proteínas de soja) e lipídios (triglicerídeos, lecitina de soja e outros óleos vegetais).

A grande vantagem da emulsificação de dupla fase está na possibilidade de modular a liberação dos compostos aromáticos, permitindo que sejam ativados em momentos específicos, como no preparo, no consumo ou até durante a mastigação. Esse diferencial faz com que a técnica seja especialmente adequada para categorias de alimentos e bebidas que exigem retenção prolongada de aromas, dispersão uniforme e estabilidade sensorial superior.

No segmento de bebidas, por exemplo, é amplamente empregada em sucos, refrigerantes e bebidas funcionais, garantindo que os aromas permaneçam protegidos contra degradação oxidativa e bem distribuídos na matriz líquida, evitando a separação de fases. Também é vantajosa para formulações de bebidas lácteas e plant-based, onde interações indesejadas entre proteínas e compostos voláteis podem comprometer a percepção sensorial.

No setor de confeitaria e panificação, tem aplicação estratégica na formulação de recheios, coberturas e massas, assegurando que os aromas sejam liberados de forma gradual, proporcionando uma experiência sensorial mais intensa e duradoura. Em chocolates e produtos açucarados, possibilita a criação de perfis aromáticos mais sofisticados, evitando perdas durante o processamento térmico e promovendo uma liberação diferenciada ao longo do consumo. Já em snacks e temperos, favorece a proteção contra umidade e oxidação, garantindo que os aromas sejam ativados somente quando o produto entra em contato com a saliva ou quando aquecido, elevando a percepção de frescor e intensidade.

Outra tecnologia que ganhou destaque na microencapsulação de aromas como uma abordagem altamente precisa para proteger compostos voláteis e controlar sua liberação em matrizes alimentícias, é a encapsulação por eletro spray. Essa técnica utiliza um campo elétrico de alta tensão para atomizar uma solução contendo o aroma e um agente encapsulante, formando micro ou nanopartículas de maneira uniforme.

Os principais agentes encapsulantes usados incluem maltodextrina, um dos mais comuns, goma arábica, amidos (de milho ou de batata), proteínas (gelatina, albumina e proteínas de soja), polímeros sintéticos (ácido polilático e polihidroxibutirato), lipídios (triglicerídeos e lecitina de soja) e pectina (especialmente quando combinada com outros materiais).

O seu grande diferencial em relação aos métodos convencionais está na capacidade de gerar cápsulas com tamanhos reduzidos e morfologia controlada, o que melhora a eficiência na proteção contra degradação oxidativa e volatilização, além de proporcionar maior estabilidade ao longo do shelf life.

A precisão dessa técnica permite encapsular aromas de forma direcionada, garantindo que os compostos sejam liberados no momento ideal do consumo, sem perdas durante o armazenamento ou processamento, o que a torna especialmente atrativa para categorias de alimentos e bebidas que demandam retenção prolongada de notas sensoriais e liberação diferenciada. Em bebidas (sucos, néctares, refrigerantes e opções funcionais), melhora a estabilidade dos aromas ao minimizar sua interação com outros componentes da fórmula, resultando em um perfil sensorial mais equilibrado. No segmento de laticínios e alternativas plant-based, se mostra promissora na incorporação homogênea de compostos voláteis em matrizes proteicas, reduzindo off-notes e preservando a identidade do sabor. Na panificação e confeitaria, garante maior retenção de aromas em recheios, coberturas e massas, evitando perdas durante o processamento térmico e intensificando a percepção sensorial no momento do consumo. Em chocolates e produtos açucarados, viabiliza a criação de perfis aromáticos mais complexos e sofisticados, promovendo uma liberação prolongada ao longo da mastigação. No setor de snacks e temperos, se destaca por proporcionar proteção contra umidade e degradação oxidativa, garantindo que os compostos aromáticos sejam ativados apenas quando o produto entra em contato com a saliva ou é submetido ao aquecimento, reforçando o impacto sensorial.

Outra abordagem que ganhou destaque nos últimos anos como uma estratégia eficiente para preservar compostos voláteis e garantir a liberação controlada em formulações alimentícias, é a aplicação de biopolímeros. Derivados de fontes naturais, como polissacarídeos, proteínas e lipídios, oferecem vantagens significativas ao proporcionar estabilidade térmica e resistência à oxidação, além de atenderem a crescente demanda por ingredientes alinhados às tendências clean label.

Diversos biopolímeros são utilizados na microencapsulação de aromas, cada um com propriedades específicas que influenciam a estabilidade e a liberação controlada dos compostos voláteis. Entre os mais empregados estão os polissacarídeos (goma arábica, maltodextrina e amido modificado), que oferecem alta solubilidade em água e excelente capacidade de formação de cápsulas protetoras. As proteínas (gelatina, caseína e proteínas do soro de leite), também desempenham papel importante ao formar matrizes estruturadas que auxiliam na retenção dos aromas e melhoram a interação com diferentes sistemas alimentícios. Além desses, lipídios naturais, como ceras e lecitinas, são explorados para criar barreiras hidrofóbicas que protegem compostos sensíveis da oxidação e da volatilização.

A escolha do biopolímero adequado depende das características do aroma a ser encapsulado, das condições de processamento e da funcionalidade desejada no produto final, permitindo uma personalização da tecnologia de encapsulação conforme a necessidade da formulação.

Entre as aplicações mais relevantes, a indústria de bebidas se beneficia amplamente dessa tecnologia, especialmente em categorias como sucos, refrigerantes e bebidas funcionais, onde a microencapsulação com biopolímeros protege os aromas da degradação e evita perdas sensoriais durante o armazenamento. No setor de laticínios e alternativas plant-based, melhora a estabilidade dos compostos voláteis em matrizes proteicas, reduzindo interações indesejadas que podem comprometer o perfil aromático, além de auxiliar na atenuação de off-notes em bebidas enriquecidas com proteínas vegetais. Na panificação e confeitaria, sua incorporação em sistemas de microencapsulação garante maior retenção de aromas durante processos térmicos intensos, como assamento e fritura, evitando a dissipação de notas sensoriais delicadas.

O uso de biopolímeros também tem sido amplamente explorado na produção de snacks, temperos e condimentos em pó, onde a proteção contra umidade e oxidação é essencial para garantir um impacto sensorial prolongado. Em chocolates e confeitos, a liberação controlada de aromas encapsulados permite criar experiências sensoriais diferenciadas, intensificando a percepção do sabor ao longo do consumo.

A versatilidade dessa abordagem também se destaca em formulações voltadas para suplementação nutricional, permitindo a incorporação de aromas em pós proteicos e misturas instantâneas, sem comprometer a estabilidade dos compostos.

Mecanismo de ação e liberação controlada

A microencapsulação de aromas é um processo altamente técnico que envolve diferentes fases, desde a formação da cápsula até a liberação controlada dos compostos voláteis no alimento ou bebida. O mecanismo de ação desses sistemas encapsulados ocorre por meio de etapas específicas que garantem a proteção, estabilidade e liberação dos compostos aromáticos conforme as condições ambientais ou estímulos específicos.

O primeiro estágio é a incorporação do aroma no material encapsulante. Nessa fase, o aroma, na forma líquida ou gasosa, é disperso dentro de uma matriz protetora composta por polímeros naturais, proteínas ou lipídios. A escolha do material encapsulante é fundamental para definir as propriedades de retenção, proteção contra fatores externos e o mecanismo subsequente de liberação do aroma.

A segunda etapa é a formação da microcápsula, onde ocorre a solidificação ou estabilização da parede encapsulante ao redor do núcleo aromático. Dependendo do método utilizado, essa formação pode envolver processos de gelificação, reticulação química, emulsificação ou secagem térmica. O resultado é uma cápsula com diâmetro que pode variar de algumas micrômetros até centenas de micrômetros, influenciando diretamente na cinética da liberação do aroma. Nessa fase, são definidas características essenciais, como porosidade da parede, resistência mecânica e capacidade de interagir com o meio externo.

A terceira fase corresponde a estabilização e armazenamento da cápsula, etapa na qual as microcápsulas passam por processos de secagem, resfriamento ou liofilização para garantir a sua estabilidade durante o shelf life do produto final. Fatores como temperatura, umidade e interação com outros ingredientes da matriz alimentar podem influenciar na taxa de degradação dos compostos voláteis, tornando essencial o uso de encapsulantes que reduzam a permeabilidade ao oxigênio e a umidade. Durante essa fase, o encapsulado pode ser incorporado ao produto final, como pós para bebidas, massas de panificação, recheios ou snacks.

A quarta e mais crucial fase é a liberação controlada do aroma, que pode ocorrer por diferentes mecanismos, dependendo das condições de processamento e consumo. O primeiro mecanismo é a difusão passiva, na qual os compostos aromáticos migram lentamente através da parede encapsulante, ocorrendo em produtos que exigem liberação gradual ao longo do tempo, como snacks e bebidas em pó.

O segundo mecanismo é a liberação por estímulo físico, onde fatores como temperatura (em panificação), umidade (em produtos efervescentes) ou cisalhamento mecânico (durante a mastigação) rompem ou amolecem a estrutura da cápsula, promovendo a dispersão do aroma no alimento ou bebida.

Um terceiro mecanismo é a degradação enzimática da cápsula, utilizada especialmente em sistemas onde a interação com enzimas naturais do alimento desencadeia a liberação do aroma. Esse mecanismo pode ser observado em produtos fermentados ou maturados, como queijos e vinhos, nos quais enzimas específicas rompem gradualmente a parede encapsulante, permitindo a evolução do perfil sensorial ao longo do tempo.

Além desses mecanismos, algumas tecnologias mais avançadas utilizam a liberação controlada por mudanças no pH. Esse princípio é explorado, por exemplo, em bebidas em pó e cápsulas de café, onde a alteração do pH durante o preparo ou consumo pode ativar a liberação dos compostos voláteis encapsulados, proporcionando uma experiência sensorial mais intensa.

A última fase do mecanismo de ação é a percepção sensorial dos aromas liberados, que depende da interação dos compostos voláteis com os receptores olfativos do consumidor. A taxa de volatilização, a sinergia com outros ingredientes e a duração da percepção olfativa são fatores críticos para garantir que o aroma encapsulado cumpra o seu papel na formulação do produto final.

A compreensão detalhada do mecanismo de ação permite que formuladores e desenvolvedores de produtos escolham as tecnologias de microencapsulação mais adequadas para cada aplicação, garantindo maior estabilidade dos aromas, melhor controle da liberação e uma experiência sensorial aprimorada para o consumidor.

Benefícios para fabricantes e consumidores

A tecnologia de microencapsulação de aromas é uma solução altamente eficaz, tanto para fabricantes quanto para consumidores, trazendo benefícios significativos para a indústria de alimentos e bebidas.

Para os fabricantes, a aplicação dessa tecnologia oferece uma série de vantagens relacionadas à estabilidade, eficiência de produção e diferenciação de produtos, enquanto para os consumidores, proporciona uma experiência sensorial mais consistente e agradável, alinhada com as tendências de qualidade e conveniência.

Uma das principais vantagens para os fabricantes ao utilizar aromas microencapsulados é a melhoria na estabilidade dos compostos aromáticos. Aromas são substâncias voláteis que podem ser facilmente afetadas por fatores como oxidação, luz, calor e interação com outros ingredientes durante o processamento, transporte e armazenamento. A microencapsulação cria uma barreira protetora ao redor dos aromas, impedindo que esses compostos se dispersem ou degradem antes de chegarem ao consumidor final. Esse aumento na estabilidade é fundamental, especialmente em produtos com prazos de validade mais longos, como sucos, refrigerantes e alimentos processados, onde a preservação do sabor ao longo do tempo é essencial. Além disso, permite que os aromas sejam preservados sem a necessidade de aditivos artificiais ou conservantes, o que pode contribuir para a criação de produtos mais naturais e alinhados com as preferências de consumidores que buscam opções clean label.

Outro benefício significativo para os fabricantes é a capacidade de controlar a liberação dos aromas de maneira precisa. A microencapsulação permite uma liberação gradual dos compostos aromáticos, o que é particularmente útil em produtos como chocolates, gomas de mascar e snacks, onde o sabor precisa ser liberado de forma contínua ou prolongada durante o consumo. Essa liberação controlada não só melhora a experiência sensorial, mas também oferece aos fabricantes uma maneira de otimizar o perfil de sabor dos produtos. A possibilidade de ajustar o tempo e a intensidade da liberação do aroma pode ser um diferencial importante para criar experiências únicas e personalizadas.

Os aromas microencapsulados também permitem a utilização de compostos aromáticos em concentrações mais baixas, sem que isso comprometa a intensidade do sabor, o que resulta em economia de custos para os fabricantes, sem deixar de atender, de maneira eficaz, as demandas por produtos com menor teor de ingredientes artificiais ou de substâncias que impactam o perfil nutricional, como açúcar ou sódio, ou seja, representa uma oportunidade de inovar em produtos mais saudáveis e sustentáveis, sem sacrificar a qualidade sensorial.

Benefícios para os fabricantes

• Melhoria na estabilidade dos compostos aromáticos: Proteção contra oxidação, luz, calor e interação com outros ingredientes, garantindo maior durabilidade do sabor.

• Preservação sem aditivos artificiais: Mantém os aromas sem necessidade de conservantes, atendendo à demanda por produtos clean label.

• Liberação gradual dos compostos aromáticos: Essencial para produtos como chocolates, gomas de mascar e snacks, proporcionando uma experiência sensorial prolongada.

• Otimização do perfil de sabor: Controle preciso do tempo e intensidade da liberação do aroma, permitindo diferenciação no mercado.

• Redução da concentração necessária de compostos aromáticos: Mantém a intensidade do sabor com menos ingredientes, resultando em economia de custos e formulações mais saudáveis.

• Inovação em produtos mais saudáveis e sustentáveis: Possibilita atender às demandas por menor teor de açúcar, sódio e ingredientes artificiais sem comprometer a qualidade sensorial.

Para os consumidores, os benefícios dos aromas microencapsulados são igualmente vantajosos. O principal impacto é a melhoria na consistência e na qualidade da experiência sensorial, que se torna mais satisfatória e prolongada.

Em produtos como bebidas, os aromas microencapsulados garantem que o sabor se mantenha intenso e fresco até o momento do consumo, mesmo em embalagens de longa duração ou em condições de armazenamento desafiadoras. Essa preservação do sabor e aroma é especialmente importante em categorias como sucos e refrigerantes, onde a volatilidade dos compostos pode comprometer a percepção de frescor e qualidade ao longo do tempo.

Também proporciona uma experiência mais prazerosa e personalizada. Em alimentos como chocolates, gomas e biscoitos, por exemplo, a liberação gradual dos aromas oferece uma experiência sensorial mais rica, com um sabor que se desenvolve ao longo do consumo. Esse tipo de liberação controlada também pode contribuir para uma maior satisfação de consumo, já que o sabor se torna mais duradouro e agradável, evitando que se dissipe rapidamente após o primeiro contato com o alimento.

A microencapsulação permite a utilização de aromas naturais ou com menor quantidade de aditivos artificiais, alinhando-se com a tendência crescente de consumo de alimentos mais saudáveis e com menos ingredientes artificiais, o que é particularmente relevante no contexto atual, onde muitos consumidores estão cada vez mais atentos à composição dos produtos que consomem e preferem opções com rótulos mais simples e compreensíveis.

Outro benefício importante para os consumidores é a possibilidade de atender a dietas mais específicas ou restritivas, como as baseadas em ingredientes naturais ou plant-based. A microencapsulação pode ser utilizada para preservar o sabor e aroma de produtos vegetais ou alternativas à carne, oferecendo uma experiência sensorial mais próxima da original, o que é um atrativo para aqueles que buscam replicar o sabor e a textura dos alimentos tradicionais de origem animal, sem abrir mão das suas escolhas alimentares.

Benefícios para os fabricantes

• Melhoria na consistência e qualidade sensorial: Os aromas microencapsulados proporcionam uma experiência mais satisfatória e prolongada, garantindo que o sabor se mantenha fresco e intenso até o momento do consumo.

• Preservação do sabor e aroma em bebidas: Essencial para sucos e refrigerantes, evita a volatilização dos compostos e mantém a percepção de frescor e qualidade ao longo do tempo.

• Experiência sensorial mais rica e prolongada: Em chocolates, gomas e biscoitos, a liberação gradual dos aromas intensifica o sabor ao longo do consumo, tornando-o mais duradouro e agradável.

• Alinhamento com tendências de produtos naturais: Permite o uso de aromas naturais e reduz a necessidade de aditivos artificiais, atendendo à demanda por alimentos mais saudáveis e com rótulos mais limpos.

• Adequação a dietas específicas: Facilita a formulação de produtos plant-based e alternativas vegetais, preservando o sabor e a experiência sensorial, sem comprometer as escolhas alimentares.

Garantindo mais estabilidade e proteção para aromas encapsulados

A indústria está sempre buscando novos ingredientes que permitam a melhoria na estabilidade das substâncias aromáticas no processo de encapsulamento, de forma que se preservem ao longo do seu tempo de vida. Nos aromas cítricos esse desafio é ainda maior.

Desenvolvida pela Nagase e distribuída com exclusividade pela Dinaco, TREHA surge como uma solução para o encapsulamento de aromas, compostos ativos, células, leveduras e bactérias probióticas, sendo um ingrediente inovador para proteção no processo de secagem.

“TREHA se destaca por suas propriedades únicas; trata-se de um dissacarídeo não redutor, composto por duas moléculas de glicose em ligação α,α-1,1. Com uma temperatura de transição vítrea (Tg) de 115°C, muito superior à da sacarose (67°C), o ingrediente assegura um encapsulamento mais eficiente”, explica Paulo Favareto, Gerente Comercial Food & Nutrition da Dinaco.

Paulo Favareto, Gerente Comercial Food & Nutrition da Dinaco

Os ensaios de encapsulamento (Sosa et al. 2012) demonstram que o uso de TREHA, em combinação com amido modificado e maltodextrina, melhora significativamente a estabilidade dos compostos encapsulados. Sua atuação no sistema permitiu excelente recobrimento dos vacúolos formados, otimizando a formação da cápsula protetora. Em processos como o spray dryer, essa tecnologia pode reduzir a oxidação dos aromas em até oito vezes após 15 meses, comparado a formulações sem o dissacarídeo. Resultado evidenciado nas fotos de microscopia eletrônica (vide imagem).

“Com essa tecnologia, os formuladores têm uma solução versátil para desenvolver aromas mais estáveis, ampliando a vida útil e a qualidade sensorial do produto final”, finaliza Paulo.

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