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Food InnovationDestaques Matérias EspeciaisDesafios e oportunidades em proteínas alternativas: redefinindo o convencional

Desafios e oportunidades em proteínas alternativas: redefinindo o convencional

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Ganhando espaço no setor de alimentos e bebidas, as proteínas alternativas impulsionam um movimento de inovação tecnológica e experiências sensoriais que ampliam os limites do paladar.

Por Márcia Fani

Por décadas, a proteína foi sinônimo de carne, leite e ovos. A indústria alimentícia construiu sua base proteica sobre ingredientes de origem animal, reconhecidos não apenas por seu valor nutricional, mas também por suas propriedades funcionais, sensoriais e culturais. A carne fornecia a suculência, o leite a cremosidade, o ovo a emulsificação, e juntos, formavam o tripé sobre o qual se ergueu boa parte das formulações alimentícias do século XX.

Mas os hábitos de consumo mudaram, e com eles, o papel da proteína. A partir da virada do século, e com mais força na última década, a proteína passou a ser percebida não apenas como nutriente essencial, mas como referência de saúde, performance e propósito. O boom de dietas hiperproteicas e a intensificação do conceito de alimentação saudável, colocaram as proteínas no centro da estratégia de inovação da indústria de alimentos e bebidas.

Nesse novo cenário, o conceito de proteína de qualidade, cujo parâmetro máximo era determinado pela digestibilidade e pelo perfil de aminoácidos essenciais, com a proteína animal sendo o modelo de excelência, reforçado por métricas como o PDCAAS (Protein Digestibility-Corrected Amino Acid Score) e, mais recentemente, o DIAAS (Digestible Indispensable Amino Acid Score), que serviam como referência para a formulação de produtos nutricionalmente completos, foi ampliado para integrar conceitos mais abrangentes, nos quais a qualidade proteica vai além da eficiência biológica, incorporando uma visão mais holística, impulsionada tanto pelas demandas dos consumidores quanto pelas inovações na ciência dos alimentos.

Como parte dessa nova visão, as proteínas alternativas surgiram em resposta a demanda por produtos mais saudáveis e sensorialmente atrativos, ampliando o escopo de possibilidades ao oferecerem novas texturas, sabores, propriedades funcionais e perfis nutricionais otimizados, conectando-se aos valores do consumidor contemporâneo.

Um mercado em transformação e expansão

Tendo como ponto central essa nova abordagem proteica, o mercado global de proteínas alternativas entrou em uma fase de consolidação e diversificação. Em 2024, o setor foi avaliado entre US$ 15,7 bilhões a US$ 16,7 bilhões, com projeções indicando que poderá ultrapassar os US$ 36 bilhões até 2034, impulsionado por uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) entre 8% e 10%, segundo estudos da Markets and Markets.

No Brasil, o mercado também segue em trajetória ascendente. Em 2024, movimentou cerca de US$ 365 milhões, com projeções variando de US$ 643 milhões até 2030 a até US$ 1,22 bilhão em 2033, segundo o IMARC Group.

Do ponto de vista das aplicações, o setor de alimentos e bebidas concentrou a maior fatia do mercado, respondendo por aproximadamente 54% a 60% da demanda global por proteínas alternativas em 2024, de acordo com a Mordor Intelligence. As categorias com maior potencial de inovação incluem snacks proteicos, bebidas funcionais, produtos análogos a carnes e laticínios, e voltados à nutrição esportiva e dietética.

Assim como no mercado global, as proteínas vegetais lideram o cenário brasileiro, principalmente em categorias como bebidas plant-based, substitutos de carne, barras proteicas e refeições prontas.

Entre as principais estão as proteínas de soja, ervilha, fava, grão-de-bico e girassol, que têm conquistado espaço expressivo. A proteína de soja continua liderando, com cerca de 65% do mercado global de proteínas vegetais, segundo a Mordor Intelligence. Essa predominância se reflete especialmente nas categorias de análogos à carne e laticínios plant-based, onde a soja representa aproximadamente 44% das aplicações proteicas. Sua funcionalidade bem estabelecida, disponibilidade e familiaridade junto ao consumidor justificam essa liderança.

A proteína de ervilha, amplamente reconhecida por seu perfil nutricional e menor alergenicidade, tem expandido sua presença em diversas aplicações. Dados da Mordor Intelligence indicam que cerca de 88% do volume produzido é destinado ao setor de alimentos e bebidas, com destaque para bebidas proteicas, snacks e substitutos de carne.

Em lançamentos de alternativas à carne em 2024, esteve presente em mais de 32% dos novos produtos, consolidando-se como uma das escolhas preferidas para formulações clean label e sensorialmente mais neutras.

A proteína de fava vem ganhando destaque como ingrediente multifuncional e com bom desempenho em formulações sensíveis à textura e estabilidade. Estimativas da Grand View Research apontam que cerca de 54,9% da receita do mercado global em 2025 será oriunda de produtos alimentícios, especialmente nas categorias de snacks, produtos plant-based e soluções de panificação. Sua versão isolada (fava protein isolate) representa aproximadamente 61% do mercado, demonstrando o seu crescente valor tecnológico.

Já a proteína de grão-de-bico ainda é considerada emergente no mercado, mas com futuro promissor. Em 2024, foi estimada globalmente em US$ 61 milhões, dos quais aproximadamente US$ 32 milhões (cerca de 52%) correspondem a aplicações em alimentos e bebidas, segundo a Grand View Research. Seu perfil nutricional e sabor suave têm favorecido sua inserção em categorias como barras, snacks proteicos e bebidas alternativas.

A proteína de girassol é outra alternativa promissora, especialmente em formulações que buscam evitar alérgenos, como soja e glúten. Segundo dados da Credence Research, o setor de alimentos representa aproximadamente 45% da sua aplicação, e é o seu maior mercado de uso. Rica em aminoácidos, como arginina e ácido glutâmico, tem sido aplicada em bebidas vegetais, snacks, pães, bolos e substitutos lácteos, com bom desempenho em emulsificação e estabilidade. Além disso, seu sabor neutro e coloração clara favorecem aplicações em produtos onde o perfil sensorial é um fator crítico.

Em ascensão no mercado estão as proteínas microbianas, incluindo as obtidas por fermentação de precisão e de biomassa, que despontam como uma das frentes de crescimento mais acelerado, com uma CAGR estimada entre 7% e 8% nos próximos anos, segundo a Grand View Research. Essas proteínas oferecem alta digestibilidade, pureza e desempenho funcional, características especialmente valorizadas na criação de produtos com foco sensorial e funcional.

Já as proteínas cultivadas, embora ainda com participação modesta em volume, apresentam taxas de crescimento acima de 8% ao ano, conforme dados da ProVeg International, sendo vistas como uma fronteira tecnológica para aplicações futuras, especialmente em formulações híbridas ou voltadas à nutrição personalizada.

Outro segmento que apresenta potencial de expansão é o de proteínas de inseto, com crescimento anual estimado acima de 20%, de acordo com a Grand View Research, refletindo um movimento de exploração de novas fontes com aplicação funcional e apelo proteico elevado.

Escolhas estratégicas

Na formulação de alimentos e bebidas, a escolha da fonte proteica está diretamente relacionada ao desempenho sensorial e tecnológico. Textura, sabor, cor e estabilidade são fatores determinantes para que uma proteína seja considerada ideal em determinada aplicação.

Atualmente, a diversidade disponível amplia significativamente o leque de possibilidades para formulações criativas, saudáveis e tecnicamente viáveis, onde cada fonte proteica oferece características únicas que, quando bem aplicadas, agregam valor nutricional, funcional e sensorial.

No segmento de bebidas vegetais e proteicas, as proteínas de ervilha, girassol e grão-de-bico são amplamente utilizadas por sua boa solubilidade, perfil sensorial suave e capacidade de emulsificação. A proteína de ervilha, apresenta textura leve e sabor neutro, além de excelente valor nutricional, sendo uma escolha popular em bebidas funcionais e esportivas. Já a proteína de girassol contribui com cremosidade e coloração clara, além de possuir perfil hipoalergênico, o que a torna uma alternativa segura e eficiente para linhas voltadas a públicos infantis ou sensíveis a leguminosas. A proteína de grão-de-bico, por sua vez, entrega uma nota suave e ligeiramente adocicada, ideal para smoothies, shakes indulgentes e leites vegetais com apelo clean label.

Em substitutos de carne, as proteínas de soja, ervilha e fava lideram o desenvolvimento de produtos por sua capacidade de emular a textura fibrosa e suculenta da carne. A proteína de soja, consagrada por sua funcionalidade, oferece excelente retenção de água, estrutura e ligação entre ingredientes, além de ter seu sabor facilmente ajustado com condimentos e marinadas. A proteína de ervilha se destaca pela textura granulada e sabor mais neutro, sendo uma aliada importante na criação de produtos com rótulos mais limpos. Já a proteína de fava contribui com uma estrutura firme e coloração suave, características desejadas em hambúrgueres, nuggets e produtos refrigerados ou congelados.

Entre os laticínios alternativos, como iogurtes, queijos e cremes, a funcionalidade das proteínas vegetais é determinante para a aceitação de consumo. A soja continua sendo uma referência por garantir textura rica, boa fermentação e estabilidade térmica, enquanto a proteína de ervilha é valorizada pela suavidade ao paladar e boa performance em fermentados vegetais. A proteína de girassol, com sua coloração clara e ausência de sabor residual, oferece cremosidade e aparência limpa, especialmente desejadas em sobremesas e cremes vegetais.

Na categoria de snacks proteicos e barras, os destaques são as proteínas de ervilha, grão-de-bico, fava e, em alguns casos, a proteína de inseto. A de ervilha entrega crocância, leveza e excelente estrutura em processos de extrusão, enquanto a de grão-de-bico se sobressai pelo dulçor natural e boa digestibilidade, tornando-se ideal para barras e produtos assados. A de fava oferece estrutura firme e estabilidade térmica, perfeita para snacks tipo crackers, e a de inseto, embora menos comum, apresenta alto valor nutricional e perfil sensorial tostado e agradável, sendo cada vez mais explorada em produtos voltados à nutrição esportiva.

Na panificação e confeitaria, as proteínas de fava, girassol e grão-de-bico são valorizados por sua compatibilidade com massas e capacidade de enriquecer o perfil nutricional sem comprometer sabor ou textura. A de fava melhora a estrutura e retenção de umidade em pães, muffins e panquecas, a de girassol contribui com emulsificação natural e leveza, e a de grão-de-bico se destaca por seu sabor suave e dulçor sutil, ideal para biscoitos, brownies e outras receitas doces com apelo saudável.

Na área de suplementos e nutrição esportiva, as proteínas de soja e ervilha, assim como as proteínas microbianas, produzidas via fermentação, dominam o cenário por sua alta concentração proteica, digestibilidade e perfil de aminoácidos. A de soja permanece como referência pelo seu valor biológico elevado e consistência em shakes e blends. A de ervilha se posiciona como uma opção segura para dietas veganas e livres de alergênicos, com sabor neutro e fácil aceitação sensorial. Já as microbianas, extremamente puras e de perfil suave, representam o que há de mais inovador em tecnologia e performance nutricional.

Unindo nutrição e funcionalidade com proteína de girassol

Em um cenário de adoção crescente do veganismo e da busca por estilos de vida mais saudáveis, a MCassab se posiciona como uma das protagonistas no universo das proteínas alternativas, oferecendo soluções que unem inovação e experiências sensoriais atrativas.

Damares Bonfati, Gerente de Desenvolvimento de Negócios em Nutrição Humana da MCassab

Um dos destaques da empresa é a proteína de girassol, produzida pela parceira Sunbloom, um ingrediente inovador e versátil para o mercado de alimentos plant-based.

“O seu grande diferencial é a origem GMO Free, garantindo que não contém organismos geneticamente modificados. Além disso, é uma fonte rica em proteínas, com todos os nove aminoácidos essenciais, tornando-se uma excelente opção para dietas veganas e vegetarianas. Sua produção, realizada por processo que preserva as propriedades nutricionais, resulta em um ingrediente de alta qualidade e pureza”, explica Damares Bonfati, Gerente de Desenvolvimento de Negócios em Nutrição Humana da MCassab.

A proteína de girassol Sunbloom também surpreende pela funcionalidade: auxilia na emulsificação e texturização de diversos produtos alimentícios, replicando a textura de carnes e fibras, além de proporcionar crocância em aplicações como hambúrgueres, salsichas, sobremesas e laticínios. “Sua versatilidade permite o uso em uma ampla gama de categorias, desde pães e biscoitos até shakes e barras proteicas”, complementa Damares.

Com perfil nutricional limpo e natural, alinha-se às demandas por produtos clean label e reflete a evolução do setor de alimentos plant-based, atendendo às demandas de consumidores cada vez mais conscientes. “Com esse ingrediente, unimos inovação tecnológica e apelo natural, contribuindo para soluções mais saudáveis e alinhadas com o futuro da alimentação”, conclui Damares.

Tecnologias emergentes para novos desafios

À medida que a demanda por proteínas alternativas cresce, também aumenta a necessidade de superar barreiras como sabor, textura, valor nutricional e escalabilidade. Nesse cenário, novas tecnologias surgem como aliadas estratégicas para enfrentar esses desafios, expandindo o portfólio de ingredientes disponíveis e viabilizando produtos mais próximos das expectativas dos consumidores.

Uma das frentes mais disruptivas é a fermentação de precisão, que utiliza microrganismos, como leveduras, fungos e bactérias, geneticamente programados para produzir ingredientes específicos,  como caseína, albumina ou colágeno. Essa tecnologia permite obter proteínas idênticas às de origem animal, mas sem a presença de animais no processo. O resultado são ingredientes funcionais com excelente perfil nutricional e propriedades desejadas, como espumação, emulsificação ou gelificação, essenciais para a indústria de alimentos e bebidas.

Outro destaque é o cultivo celular, que parte da coleta de células animais e as multiplica em biorreatores, formando tecidos semelhantes aos da carne convencional. Essa técnica, embora ainda enfrente barreiras regulatórias, altos custos e desafios de aceitação, tem grande potencial para transformar a cadeia produtiva de carne, laticínios e frutos do mar nos próximos anos.

As proteínas microbianas, como as derivadas de micélio (estrutura dos fungos) ou algas, também vêm ganhando destaque. Além da sua alta concentração proteica, essas fontes apresentam vantagens como cultivo rápido, baixo consumo de recursos naturais e versatilidade de aplicação. Novas cepas e métodos de cultivo vêm sendo explorados para potencializar o rendimento e as propriedades sensoriais desses ingredientes.

Outro caminho explorado pela indústria é a modificação enzimática de proteínas vegetais, um processo que visa melhorar atributos como solubilidade, dispersão, digestibilidade e sabor. A aplicação de enzimas específicas permite ajustar a funcionalidade das proteínas em diferentes matrizes alimentares, de bebidas a análogos cárneos, além de reduzir notas indesejadas, comum em algumas leguminosas.

Essas tecnologias não apenas viabilizam novas fontes e aplicações de proteínas alternativas, como também abrem caminha para um futuro onde a sua oferta será cada vez mais ampla, eficiente, personalizável e alinhada com os desejos do consumidor moderno, que busca saúde, sabor e propósito no mesmo prato.

Transformando o futuro da nutrição com novas fontes de proteína

Igor Oliveira, Gerente Comercial da Barentz

A busca por proteínas alternativas está diversificando o cardápio global. Embora a soja ainda seja a principal fonte, novas opções, como ervilha, grão-de-bico, leguminosas variadas, cereais, plantas marinhas, fungos, insetos e proteínas por fermentação de precisão, estão ganhando força.

“O avanço tecnológico impulsiona essa revolução, trazendo soluções para aprimorar sabor, textura e valor nutricional, aproximando cada vez mais a experiência das proteínas vegetais e de fermentação à das de origem animal”, afirma Igor Oliveira, Gerente Comercial da Barentz.

A proteína de ervilha exemplifica essa diversificação. Sua forma isolada se destaca pelo alto teor proteico (80% a 85%), perfil balanceado de aminoácidos, alta digestibilidade e ausência de alergênicos, como glúten e soja, além de fornecer boa solubilidade, emulsificação e retenção de água, possibilitando diversas aplicações sem perda de qualidade sensorial. “Processos como micronização e remoção de compostos voláteis melhoram o sabor e ampliam a aceitação do consumidor, atendendo a dietas veganas, flexitarianas e restritivas”, explica Igor.

Alinhada à visão de que o futuro dos alimentos está ligado à inovação, saudabilidade e diversificação alimentar, a Barentz atua em parceria com a Roquette, referência global em ingredientes tecnológicos, oferecendo as proteínas isoladas de ervilha NUTRALYS® S85F e NUTRALYS® S85 Plus, reconhecidas por sua alta funcionalidade e baixo teor residual. A linha NUTRALYS® contempla versões variadas em teor proteico, granulometria e funcionalidade para aplicações em bebidas, análogos cárneos, panificação, snacks e suplementos nutricionais.

“A união de inovação e sustentabilidade acelera a oferta de proteínas com qualidade, custo competitivo e menor pegada ecológica, essenciais para o futuro da alimentação”, conclui Igor.

Proteínas alternativas no mercado plant-based

No Brasil e no mundo, o mercado plant-based vive um momento de rápida expansão e consolidação, impulsionado por mudanças nos hábitos de consumo, avanços tecnológicos e a busca por produtos que combinem saudabilidade, inovação e sensorialidade.

Mônica Pucci Simão, especialista em inteligência de mercado e tendências de consumo, fundadora da Syncronia

Segundo Mônica Pucci Simão, especialista em inteligência de mercado e tendências de consumo, fundadora da Syncronia, consultoria focada em inovação e comportamento do consumidor no setor de alimentos e bebidas, o mercado brasileiro de carnes está vivendo uma virada histórica, com a carne de frango, mais acessível e associada a saudabilidade, consolidando seu domínio nas mesas do país, enquanto a carne bovina enfrenta desafios, com queda no consumo e aumento de preços.

“Essa transformação é estimulada principalmente pelo público flexitariano, pessoas que reduzem o consumo de carne sem eliminá-la totalmente. Esse é o consumidor que mais movimenta o mercado plant-based atualmente, pois busca equilíbrio entre sabor e benefícios à saúde, sem abrir mão da experiência sensorial”, afirma Mônica, acrescentando que empresas nacionais e multinacionais vêm investindo em produtos que competem em sabor, textura e valor nutricional com a proteína animal, ampliando o portfólio de opções no varejo e no food service.

Na visão de Mônica, o Brasil tem enorme potencial para ser protagonista na produção de proteínas alternativas, principalmente pela diversidade agrícola e pela capacidade de inovação tecnológica, que vem crescendo nos últimos anos. “O país também se destaca em iniciativas de pesquisa e desenvolvimento. Um exemplo é o Programa de Fomento à Pesquisa em Proteínas Alternativas: Inovação e Sustentabilidade no Paraná, lançado em junho de 2024, pela Fundação Araucária em parceria com a Associação The Good Food Institute Brasil (GFI Brasil), que incentiva tecnologias avançadas, como fermentação e cultivo celular, para produzir ingredientes mais acessíveis e sensorialmente atrativos” complementa Mônica.

O movimento de inovação sensorial e tecnológica também avança na Europa, com soluções de alto impacto. A startup Project Eaden, por exemplo, levantou 15 milhões de euros para lançar um presunto ultrarrealista à base de plantas. “O Project Eaden está liderando essa mudança com sua nova tecnologia de fibra, oferecendo uma alternativa à carne que atrairá até mesmo os consumidores mais céticos”, afirma Christoph Gras, sócio da Planet A, investidora da empresa.

Apesar da crescente aceitação e do avanço em formulações mais sofisticadas, as proteínas alternativas ainda enfrentam barreiras importantes, principalmente no que diz respeito à experiência sensorial e à competitividade em preço. Se nas primeiras ondas de inovação o foco estava em replicar o valor nutricional das proteínas animais, a nova fase exige ir além: conquistar o consumidor pela experiência sensorial.

Segundo dados de 2024 da Mintel, 28% dos brasileiros afirmam que comeriam menos carne se houvessem alternativas vegetais mais saborosas, e 9% ainda acreditam que essas alternativas não são mais saudáveis do que a carne tradicional, o que evidencia que o desafio sensorial e a percepção nutricional ainda são entraves importantes. “A inovação sensorial é o grande diferencial que determinará o sucesso dos produtos plant-based no mercado. Não basta ser saudável, precisa ser saboroso e despertar desejo no consumidor. Os investimentos em tecnologia e pesquisa para melhorar a textura e o sabor das proteínas alternativas estão crescendo exponencialmente, o que traz expectativas positivas para o futuro desse mercado no Brasil”, afirma Mônica.

Além dos aspectos organolépticos, o alto custo de produção continua sendo um gargalo relevante. Segundo Mônica, o custo elevado é um grande desafio para a consolidação das proteínas alternativas no mercado brasileiro, impactando diretamente a adoção em massa e, principalmente, a competitividade frente às proteínas animais, já conhecidas e aceitas pelos consumidores brasileiros. Igualmente desafiadora é a carga tributária sobre ingredientes e produtos industrializados, somada à logística complexa para distribuição em um país de dimensões continentais, elevando o preço final ao consumidor, e adicionando-se a isso, o fato de que o setor ainda opera em volumes menores comparados à indústria tradicional de carnes e laticínios, o que impede ganhos de escala e diluição de custos fixos. “Com o amadurecimento do setor no intervalo 2025-2028, aumento da escala produtiva e incentivos à produção local, a expectativa é que o custo das proteínas alternativas diminua gradualmente, tornando-as mais competitivas frente às proteínas animais, impulsionando o crescimento do mercado brasileiro nos próximos anos”, comenta Mônica.

Proteínas híbridas: equilíbrio entre inovação e aceitação

À medida que o setor de proteínas alternativas amadurece, surgem soluções que ampliam o repertório de possibilidades, como é o caso das proteínas híbridas, formulações que combinam proteínas animais (carne bovina, suína ou frango) com proteínas vegetais (soja, ervilha ou grão-de-bico), criando produtos que aliam os atributos sensoriais das proteínas convencionais à saudabilidade e inovação dos ingredientes vegetais.

Diferentemente dos produtos 100% plant-based, os híbridos não têm como objetivo eliminar completamente os ingredientes de origem animal; o foco está em reduzir sua presença e, com isso, oferecer uma alternativa com menor impacto calórico ou lipídico, melhor perfil nutricional e, muitas vezes, preço mais competitivo. Além disso, permitem o uso de ingredientes mais funcionais sem comprometer a aceitação sensorial.

Essa estratégia tem se mostrado especialmente eficaz no desenvolvimento de substitutos cárneos, como hambúrgueres e embutidos, onde as formulações híbridas podem ser ajustadas para manter a suculência e a textura fibrosa típicas da carne, ao mesmo tempo que reduzem gordura saturada ou aumentam o teor de fibras e proteínas vegetais de boa digestibilidade.

“Estudos indicam que hambúrgueres híbridos com 25% a 50% de ingredientes vegetais são preferidos em comparação aos totalmente vegetais. Para ter sucesso, os produtos híbridos devem focar em posicionamento estratégico, destacando sabores únicos e benefícios nutricionais, em vez de serem vistos como uma alternativa”, afirma Mônica Pucci Simão.

Além dos substitutos cárneos, outras aplicações promissoras incluem refeições prontas e pratos congelados, onde blends híbridos garantem sabor e conveniência com menor teor calórico e gordura; snacks salgados e empanados, incluindo, por exemplo, nuggets híbridos de frango com vegetais; e produtos premium, combinando carne de qualidade com proteínas vegetais funcionais, que atendem a posicionamentos mais sofisticados no varejo.

“Na prática, a adoção de proteínas híbridas pode ser uma porta de entrada para o público flexitariano, que busca reduzir o consumo de carne, mas ainda valoriza o sabor e a conveniência dos produtos tradicionais. Em muitos casos, a percepção de ‘meio termo’ ajuda a ampliar o leque de consumidores, especialmente em categorias como pratos prontos, snacks proteicos e refeições em food service”, avalia Mônica.

Para a indústria, a aposta em proteínas híbridas representa uma abordagem de baixo risco, com apelo comercial imediato e espaço para diferenciação em um mercado cada vez mais atento à composição dos produtos.

Do ponto de vista técnico, há oportunidades em tecnologias de processamento (como extrusão e emulsificação), uso de aromas e enzimas para mascarar notas vegetais indesejadas e combinação estratégica de ingredientes para potencializar perfil nutricional, shelf life e estabilidade sensorial.

Da prateleira ao cotidiano

A consolidação das proteínas alternativas no mercado global de alimentos e bebidas ganha força e forma.

A Beyond Meat, empresa sediada na Califórnia (EUA), por exemplo, está prestes a mudar seu nome para “Beyond”, em uma estratégia para ampliar sua atuação além das alternativas à carne e focar em proteínas alternativas de forma mais ampla.

A decisão de retirar “Meat” do nome e promover o rebranding visa reposicionar a marca no mercado, destacando seu compromisso com a produção de alimentos nutritivos e ricos em proteínas, que podem ocupar o centro do prato dos consumidores, e consolidar sua posição como líder no segmento de proteínas alternativas, atendendo a diferentes perfis de consumidores na transição para dietas mais plant-based.

As proteínas alternativas também ganham forma com o lançamento de produtos cada vez mais inovadores, sensorialmente equilibrados e nutricionalmente robustos. Mais do que protótipos experimentais, essas soluções estão chegando às prateleiras com forte apelo comercial, contribuindo ativamente para uma transição alimentar mais flexível, inclusiva e prazerosa.

Nesse contexto, os produtos híbridos vem se consolidando como uma ponte estratégica entre o consumo tradicional de carne e as alternativas plant-based, unindo performance sensorial com posicionamento nutricional mais atrativo.

Nos Estados Unidos, a Mission Barns recebeu, em 2025, a aprovação da FDA para comercializar sua gordura de porco cultivada, ingrediente desenvolvido por cultivo celular e aplicado em formulações com proteínas vegetais, conferindo sabor e suculência a embutidos e hambúrgueres, melhorando o desempenho sensorial dos produtos plant-based e atraindo consumidores flexitarianos.

Na Europa, a rede Lidl, dos Países Baixos, lançou recentemente uma carne moída híbrida com 60% carne bovina e 40% proteína de ervilha. A boa aceitação do produto confirma o potencial das soluções híbridas como alternativas mais acessíveis, sensoriais e sustentáveis, com sabor, textura familiar e apelo nutricional melhorado.

No Brasil, o segmento plant-based também vem se consolidando, com presença marcante em supermercados, restaurantes e redes de fast food que passaram a incluir opções plant-based em seus cardápios.

Um dos exemplos dessa evolução é a Incrível Seara, marca da JBS lançada em 2019, com o objetivo de oferecer alimentos 100% vegetais com sabor, textura e aparência semelhantes aos produtos cárneos tradicionais.

A linha conta com uma ampla variedade de produtos: hambúrguer vegetal com textura suculenta e sabor semelhante ao de carne bovina; almôndegas, kibes e empanados feitos à base de plantas, com temperos tradicionais; refeições prontas, como estrogonofe, moqueca e escondidinho, que combinam praticidade com apelo vegetal; e tiras e carne moída vegetal, voltadas para preparos caseiros.

Os produtos são formulados com ingredientes como proteína de soja, ervilha, grão-de-bico e beterraba, responsáveis por replicar a aparência e suculência da carne. Além disso, são enriquecidos com ferro e vitamina B12, micronutrientes essenciais comumente encontrados em alimentos de origem animal, um diferencial importante para quem está em transição alimentar ou busca balancear sua dieta.

Outro exemplo prático vem da A Tal da Castanha, que ampliou o seu portfólio de alimentos clean label com o lançamento da bebida vegetal Completo, que combina proteínas de arroz, ervilha e castanha-de-caju, entregando oito gramas de proteína por porção de 200ml, além de ser fonte de fibras, conter baixos teores de açúcares, gorduras totais e saturadas, e não possuir conservantes, gorduras trans, colesterol ou lactose.

Fora do universo das carnes e leites, a aplicação de proteínas alternativas também tem impulsionado o mercado brasileiro, atendendo a diferentes desejos dos consumidores atuais, tanto com relação a aporte proteico quanto experiência sensorial.

A Nutry, marca da Nutrimental, vem reforçando sua presença no segmento proteico via ampliação de portfólio. Recentemente, sua linha Crispy Protein de barras de cereais, que já contava com os sabores Cookies & Cream, Chocolate ao Leite e Pasta de Amendoim, lançou os sabores Bombom de Coco e Trufa de Avelã, que acompanham a demanda crescente pela variedade de snacks saudáveis, práticos e saborosos.

A linha Crispy é indicada para quem busca mais energia e performance no dia a dia,  sem abrir mão do sabor. As barrinhas oferecem 9g de proteína por unidade, possuem textura leve e crocante, e são totalmente cobertas por chocolate, oferecendo uma experiência indulgente com perfil nutricional equilibrado. Sua fórmula combina ainda, proteína de soja e whey protein, proporcionando mais saciedade e contribuindo para o controle do apetite entre as refeições.

Já a Mãe Terra, marca da Unilever de alimentos naturais, integrais e orgânicos, lançou uma linha de produtos proteicos 100% vegetais em parceria com a Mix Nutri, empresa de suplementos nutricionais. A proposta é atender à crescente demanda por alimentos práticos e nutritivos, com sabor e performance, mantendo o compromisso com ingredientes naturais, sem açúcar, sem lactose e veganos.

A nova linha inclui barras de proteína vegetal e suplementos proteicos em pó, ambos derivados exclusivamente de fontes vegetais. Cada barra contém 15g de proteína, vitaminas, minerais, fibras e inulina, além de ser isenta de açúcar e lactose.

Com essa iniciativa, a Mãe Terra dá um passo estratégico na expansão de seu portfólio e reforça sua atuação no setor de proteínas vegetais.

A diversidade de marcas, ingredientes e formatos aponta para um cenário em franca expansão, tanto para produtos 100% vegetais quanto para híbridos, que têm potencial para desempenhar papel-chave na jornada de transição para uma alimentação mais saudável e nutritiva.

Redesenhando o futuro das proteínas

O crescimento das proteínas alternativas segue em ritmo consistente, impulsionado por mudanças nos padrões de consumo e pela busca por soluções versáteis, funcionais e economicamente viáveis para a formulação de alimentos e bebidas com melhor perfil nutricional e experiência sensorial aprimorada.

O levantamento “Global Food and Drink Trends”, da Mintel, apontou que 45% dos lançamentos globais de alimentos proteicos em 2023 destacaram ingredientes de origem vegetal, refletindo o crescente interesse por alternativas que conciliam saúde e sabor, o que reforça o papel das proteínas alternativas no atendimento às novas expectativas de consumo.

A ascensão de dietas flexitarianas e vegetarianas, somada à valorização de escolhas alimentares mais equilibradas, tem impulsionado a demanda por ingredientes proteicos que ofereçam tanto qualidade nutricional quanto funcionalidade para aplicações diversas.  Segundo o relatório “Protein Trends Report”, da Innova Market Insights, 38% dos consumidores globais procuram produtos com benefícios funcionais associados a proteínas vegetais, um comportamento que estimula o desenvolvimento de soluções que entreguem desempenho tecnológico, saudabilidade e conveniência.

Essa evolução nas preferências de consumo também abre espaço para inovações baseadas em tecnologias emergentes. O relatório “Future of Protein”, da Euromonitor International, destaca abordagens como a fermentação de precisão e o cultivo celular como caminhos promissores para a próxima geração de proteínas. Essas tecnologias permitem customizar perfis nutricionais e sensoriais, superando limitações como sabor residual e textura inadequada, desafios críticos na formulação de snacks, bebidas e alternativas aos laticínios e carnes tradicionais.

Além da evolução tecnológica, os aspectos regulatórios e de rotulagem também ganham protagonismo nas discussões sobre proteínas alternativas. Países como Estados Unidos, Brasil e membros da União Europeia, vêm avançando na definição de marcos regulatórios pautados na garantia da segurança e transparência para os consumidores, envolvendo autoridades como a FDA (Food and Drug Administration), ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e EFSA (European Food Safety Authority).

Nos Estados Unidos, a FDA tem conduzido análises específicas para ingredientes produzidos por fermentação ou cultura celular; no Brasil, a ANVISA discute a regulamentação de novos alimentos, incluindo proteínas alternativas, com base no marco regulatório de novel foods; e, na Europa, a EFSA tem publicado pareceres técnicos sobre segurança e uso de novas fontes proteicas.

Combinando inovação tecnológica, alinhamento aos apelos sensoriais e nutricionais, e conformidade regulatória, o futuro das proteínas alternativas se apresenta como um campo estratégico para a construção de um sistema alimentar mais robusto, competitivo e alinhado às atuais demandas de consumo.

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